BNCC um projeto de Manipulação e Alienação

Composição XX (Kandinsky)

A BASE Nacional Curricular Comum é um documento que tem o intuito de padronizar a educação púbica em todas as escolas brasileiras, ela é pensada em uma concepção individual, baseada na meritocracia a serviço do pensamento do mercado, para servir à política de desmonte e de desvalorização do ser humano. É escrita no singular, porque é pensada, arquitetada no individualismo e não no plural, ou seja, na coletividade, como deveria ser para contemplar as diferenças regionais e as diversidades humanas.  A mesma traz no seu bojo a essência do capitalismo, do mercado empresarial, pensando apenas em satisfazer as necessidades do mercado financeiro.

Os detentores do poder, de forma antidemocrática, sem discussão com a sociedade, em especial com os que fazem a educação acontecer no chão da escola, determinaram em um documento como deve ser distribuído o currículo das escolas de todo Brasil.

“Os que detêm o monopólio do ter, do poder e do saber controlam os mercados e decidem sobre o que se deve produzir, consumir e exportar. Numa palavra os colonizados são impedidos de fazer suas escolhas, de tomar as decisões que constroem sua própria história”. (Boff, 2012, p. 22)

Segundo Boff, as decisões passam pelos que detém o ter, o poder, o saber e o controle do mercado, e foi exatamente o que aconteceu com a BNCC. Ela foi pensada para atender às necessidades do mercado, dos empresários, das elites burguesas, dando ênfase às disciplinas de português, matemática e cursos técnicos. Essa, sem dúvida, é uma forma de colonizar o pensar e o agir do indivíduo, impedindo de fazer suas escolhas. A falta das discussões na construção do citado documento impede a participação dos atores que atuam de forma efetiva no chão das escolas e impede também que seja construída a transformação da educação de forma democrática e participativa.

Esta Base traz ideologicamente a preservação das escolas tradicionais e conservadoras, priorizando a prática conteudista, vendo os estudantes como seres que não podem criar asas, que precisam ser presos a uma concepção. Essa prática conteudista impede o pensamento de liberdade, de criar, de inventar e reinventar o saber. O tradicionalismo é usado para manter engaiolados os pensamentos e levar os trabalhadores e seus filhos a estudarem utilizando uma BNCC que os privam da liberdade, para assim controlar a sociedade e manter o poder determinado pelos dominantes. 

O ser que não pensa livremente acaba engaiolado, controlado pela concepção dos dominantes e levado para onde os detentores do poder quiserem e essa é uma determinação dos opressores: quanto mais seres controlados mais aumenta o poder, e assim mantêm-se na dominação do poderio, aumentando o poder do opressor.

A Base Curricular apresentada pelo MEC (Ministério da Educação) é o fortalecimento dos empresários, da mercantilização, do capitalismo e das elites burguesas. É o cativeiro dos trabalhadores em educação e dos estudantes das escolas públicas, visando o controle do saber educacional, produzido através de professores (as) e estudantes no fazer pedagógico. O cativeiro da escravização do pensar, da colonização do ser humano, o adestramento para sustentar a mais valia na realização do sistema empresarial no sentido de atingir o objetivo do capital financeiro, determinando assim o crescimento do poder sobre os dominados.


   “Através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus objetivos. E quanto mais imaturas, politicamente, estejam elas (rurais ou urbanas) tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu poder.” (Freire, 1982, p. 172)


O mercado empresarial, com intuito de manipular a classe operária da educação se encarrega de assumir, através de diversas empresas, a formação continuada dos professores (as), utilizando das empresas como VIVO TELEFONICA, FUNDAÇÃO LEMANN etc., assim têm facilitado a entrada desse projeto destruidor nas escolas públicas, para formalizar a implementação da base curricular, sonhada e idealizada pelo grande capital para a mercantilização da educação pública. Essa foi a forma de inserir a ideologia mercantilista com a função manipuladora na construção do saber dos educadores das escolas públicas.

Ainda há quem diga que a definição dos conteúdos são apenas 60%, sendo que os 40% podem ser trabalhados de forma regionalizada, priorizando a cultura local, porém tem a obrigatoriedade da cobrança dos conteúdos definidos dos 60% através das provinhas Brasil, Ana (Avaliação Nacional de Alfabetização) etc., atendendo cumprimento da determinação do MEC, o que levará os professores a trabalharem especialmente os conteúdos definidos nacionalmente, para atender a realização determinada pelas avaliações das provas aplicadas nacionalmente nas escolas públicas.

Portanto, os conteúdos trabalhados prioritariamente são os que serão cobrados de forma nacional, visto que os professores (as) e estudantes já são pressionados para que obtenham uma boa nota nestas provas.

“Todo aniquilamento ou subalternização, subordinação, marginalização e ilegalização de práticas e grupos sociais portadores de forma de conhecimento “estranhos”, porque sustentados por práticas sociais ameaçadoras”. (Santos, 1995, p.328).

A formação ideológica defendida no projeto golpista está totalmente atrelada a uma concepção bancária, visto que não teve discursão com os educadores (as), estudantes e a sociedade civil, ficando a critério dos que se jugam “sábios” e detentores do poder. Essa é uma prática autoritária que é desenvolvida na relação de subalternidade dos que se dizem dominadores do “saber” e dos que nada sabem. É preciso romper com essa cultura subalterna e opressora. 

Aos educadores e estudantes só resta a resistência e a desobediência, pois, diante da violência apresentada pela BNCC, é preciso uma luta articulada para uma reação de forma coletiva da sociedade, é preciso dizer não à retirada da autonomia educacional dos que fazem a educação acontecer nas escolas públicas.

Este projeto apresenta de forma clara a luta de classe, a luta entre os oprimidos e opressores, os dominantes e os dominados, estar posto a subalternidade de uma classe sobre a outra.


Referências Bibliográficas

BOOF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
Chauí, Marilena. Espinosa: poder e liberdade. Universidade de São Paulo.2006. http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/filopolmpt/06_chaui.pdf
FREIRE, Paulo, Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 198 
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder.  Organização , introdução e Revisão Técnica de Roberto Machado. www.sabotagem.cjb.net2. 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 2013.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-  modernidade. Cortez, São Paulo, 1995.



Sandra Morais 
Graduada em história, professora da rede municipal de Santo Amaro das Brotas/SE, Membro do grupo de pesquisa  em Educação, Cultura e Subjetividade- GPECS/CNPQ/UFS e diretora do Departamento de Bases Municipais do Sintese.



 

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